4 de agosto de 2015


Me acostumei ao soltar de mãos. A ruptura tem se tornado muito presente nesses meus anos de vida. Tornei-me, aos poucos e contrariado, uma ponte. E não existe nada mais triste do que ser uma ponte.

Ninguém há de querer ser um transpasso, muito menos uma estrada que liga o nada ao lugar nenhum. Ninguém há de querer ser um cenário antagônico, que razão teria para tal? Loucura! Ora! 

Mas é preciso algo esclarecer: o direito de escolher qual papel vai representar quando a claquete soa e o filme começa não existe para todos.

Pensando sobre como é difícil ser meio, pude relembrar todos os pés que completaram meu trajeto. Foi fácil. Utilizei uma única mão. Nela, todos os que me importaram de verdade foram contabilizados, e ainda teve sobra, vejam só.

Se alguém se importasse com pontes ao ponto de questionar-me o que desejo hoje, diria que uma interdição. Severa, rígida, com faixinhas amarelas e tudo mais. Daquelas do tipo: nada passa. Um tempo sem passos, literalmente.

Chega! Parou! 

Não, não quero mais sapatos viajados em meu asfalto, pelo menos não até que os últimos e mais importantes ainda estejam tocando os meus últimos metros de pista.

Rua é aquilo que toda ponte gostaria de ser, porque para nós nada parece mais reconfortante do que ter a certeza de que os sapatos que te importam vão voltar todos os dias. É difícil para uma ponte sempre ter de dizer adeus.


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