8 de setembro de 2015


Quando a minha mente não se aquieta, imediatamente sinto a necessidade de caminhar. Isso me acalma, consigo respirar melhor e pouco a pouco o ritmo do meu corpo volta ao normal, assim, como um relógio enferrujado. Geralmente faço isso sozinho, mas não por querer, estar sozinho é somente uma consequência do tempo. Dia desses, subitamente me senti mal. Um sinal estranho do meu coração. Como se quisesse passar um recado, ele acelerou. Eu tomei um susto, confesso, não estou acostumado com isso, acabo me sentindo muito vulnerável e tudo que eu não posso ser nessa vida é vulnerável.

Precisava caminhar, sentir um pouco do vento de cheiro forte que me cercava no momento. Sem rumo, parti. Cabeça baixa, sapatos sujos, camisa desabotoada e coração em pane. Não parece um cenário favorável, né? Eu sei. Não era. Eu andei, andei, chutei pedrinhas que me passavam na vista que nessa altura já estava turva, apanhei uma folha de papel com dizeres que não faziam sentido algum e esbarrei em algo. O que era? Um lago artificial. Era tudo que precisava.

Sentei-me a beira da ponte que passava sobre o lago e tirei meus sapatos encardidos. Com os pés na água e a mente longe, meu coração desacelerou. Acho que naquele momento tudo que eu precisava era de paz. Senti paz naquele lugar. Alguns minutos depois, meu celular toca. Não era nada de importante. Porém, quando coloquei minhas mãos dentro do bolso da calça lembrei-me das moedas que carregava. Surgiu, então, uma ideia.

Aquele lago não lembrava em nada uma fonte. Eu, muito menos, acredito em desejos e pedidos. Mesmo assim, resolvi me desfazer daquelas moedas e jogá-las na fonte, digo, no lago. Antes de atirar a primeira, pensei em tudo que considero relevante. Não me veio nada. Loucura, pensei. Como assim não tenho nada de relevante pra pensar aqui e agora? Eu realmente não estava bem. 

Joguei. A moeda, dourada, saiu de minha mão de forma tão abrupta que a senti tocar o chão do lago. Eu não havia pedido nada. Lá se foi uma moeda, ainda restavam quatro. Vou atirar mais uma, pensei comigo mesmo, só que desta vez ela precisa ter significado, mesmo que eu não acredite que esteja fazendo algo além de depositar moedas em um recipiente gigante de água. Joguei. Pensei, ali, na mulher por quem estou apaixonado.

O lógico seria eu ter pedido por ela ou por uma reaproximação, mas eu não fiz isso. Aquele momento me parecia tão surreal e impensável que decidi utilizá-lo para coisas mais importantes. Atirei a moeda e pedi para que a mulher que eu amo encontre alguém que a faça feliz de uma forma tão grande que ela nunca mais precise sentir medo. 

Eu parei por um momento. Fechei os olhos, senti o aroma da água e decidi continuar. Saquei outra moeda e atirei sem pensar muito, dessa vez eu pedi que ela se sinta especial e amada todos as vezes em que olhar-se no espelho. Depois disso comecei a achar que estava pedindo coisas demais, só que ainda me sobravam duas moedas. Elas também se foram de encontro a água. Pedi, então, na penúltima, que a mulher que eu amo não tenha de carregar mais consigo tanta insegurança, tanta ansiedade. Isso a faz mal. 

Me vi com uma última moeda em mãos. Aquele era o momento do grande pedido. O mais importante. Olhei no relógio e percebi que eu já havia passado tempo demais ali, precisava voltar ao meu lugar de origem, pois a minha aula já estava para começar. Calçando os meus sapatos, meio desajeitado, arremessei a última moeda no centro do lago e sussurrei: espero que a minha vermelha encontre alguém que a olhe da mesma forma como eu a olhei um dia.

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